Um dos meus pedidos sempre foi encontrar alguém como eu, e apenas essa pessoa entenderia o que seria esse “ser como eu”... agora, porém, encontrei alguém que é muito mais do que eu, alguém que parece fazer da vida uma bela obra de arte, alguém que eu me orgulho em conhecer e invejo a magia que nela habita.
Quando me referi à alguém, eu não disse o que seria esse alguém, e para minha surpresa esse alguém se tornou uma das minhas mais importantes amigas, a pessoa mais fascinante que já conheci, alguém com quem eu amo falar como se fosse uma “irmã de alma”, mesmo fazendo tão pouco tempo que neste mundo nos encontramos.
Esta noite, após conversarmos por horas sobre espíritos, nuvens em forma de rostos, estrelas que cortam os céus, cheiros estranhos e amores perdidos, acabei por adormecer no sofá, e ali sonhei um sonho, um sonho estranho e lindo.
A noite era densa, mesmo assim me era visível a silhueta de velhas árvores retorcidas pelo tempo, que subiam aos céus como grandes trepadeiras de galhos que mais se assemelhavam à estranhas raízes. Essas árvores perpassavam o horizonte escuro e apenas uma pequena estrada existia à frente. Andei por ela em um tempo que parecia ser composto de várias e várias horas, longas horas de trevas, silencio e paz, quando finalmente deparo-me com um grande abismo, onde não avisto o fim, nem mesmo suas profundezas. Vejo as trevas desaparecerem e finalmente o ambiente se ilumina, não pela luz do sol, mas por estranhas estrelas cuja força é tamanha que perpassa os céus fechados e carregados de escuras chuvas.
Sinto o cheiro da terra molhada, como se uma gigantesca nuvem de pó se levantasse perante o cair de grandes chuvas invisíveis. Vejo uma luz azul levantando-se do fundo do precipício e pequenos pássaros por ele sobem, pássaros que incrivelmente são a fonte da própria luz, exaurindo um sentimento de temor e tremor.
Eles unem-se em uma única bolha de luz viva e cintilante. Intuitivamente pergunto “onde estou” e essa bolha de luz azul me responde “nos limiar dos sonhos de alguém” e nesse momento a imagem dela, sentada embaixo de uma grande e redonda árvore, se forma, como por um portal mágico. Literalmente era como se eu visse a imagem de uma irmã antiga e amada de que outrora me separei pelo simples véu do esquecimento, e essa irmanzinha de alma era você Bru.
Uma mão toca minha testa, movendo cabelos que eu nem sabia que estavam sobre minha face. Ouço uma voz ecoar apagando as imagens dos meus pensamentos, deturpando minhas sensações daquele lugar, e ela era insistente: Gil, Gilll acorda Gilll...
Do nada tudo desaparece e dá espaço à uma luz branca, irritando meus olhos. Vejo a face da Luu e lembro-me que estou na casa de um casal de amigos, apagado no sofá, e ela está me chamando, preocupada com o fato de eu me levantar com a coluna doendo.
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